Durante minha caminhada para chegar a Santiago de Compostela fiquei por muitos períodos completamente sozinha.
Foram momentos que vi que minha introspecção se acentuava. Eu conseguia pensar e sentir a mim mesma com muito mais profundidade e, entre choro, tristeza ou uma sensação de paz e aconchego, meus passos seguiam.
Eu estava vivendo uma fase de muita dor, mas percebia que era também a hora de uma grande virada, só não conseguia ainda enxergar como.
Quando retornei à minha terra, não foram poucas as pessoas que vieram saber se o medo teria sido meu companheiro.
Outras muitas disseram que jamais teriam coragem de fazer o Caminho de Santiago sozinhas como eu fiz, e se surpreendiam com minha ousadia.
Em um dos 15 dias de caminhada, passei por um momento no mínimo curioso. De cabeça baixa, presa a meus pensamentos, tomei um susto ao ouvir a voz de um homem, que falou quase me esbarrando: "Você não tem medo de caminhar sozinha?". Meu coração disparou. Não respondi e apenas apressei o passo, rezando para não ser seguida.
Ali, já depois de ter andado por alguns dias, fui pensar sobre o medo.
Por que eu, que sempre me considerei tão medrosa, estava diante de uma situação daquela?
Naquela fase da minha vida eu vinha enfrentando outros medos, acho que bem maiores, e diante deles, peregrinar desacompanhada não representava absolutamente nada para mim, apenas o desafio de cumprir o percurso determinado até chegar a Santiago de Compostela.
Já tive medo de ser copiloto de rally, de andar de avião, de perder minhas filhas. Com a maturidade, todos foram se aquietando no meu coração. O que eu tinha mesmo e que restava forte em mim era o medo de recomeçar a vida sozinha. Esse passou a ser o pior deles.
Refiz essa nova vida essa nova vida devagar. Houve dias com mais incertezas e angústias, mas outros tantos com coragem, em que fui me soltando e desejando liberdade para buscar a mim mesma.
Ainda continuo caminhando.
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