Falamos das mudanças na vida como uma constante, mas encarar e ter consciência da importância que têm pra nós é uma das coisas mais significativas que a maturidade nos traz.
Se na juventude as mudanças são ainda mais frequentes, muitas vezes não paramos para perceber e avaliar com clareza qualquer evolução. Elas simplesmente acontecem e passamos de etapa, como num jogo. Casar, ter filhos, assumir uma profissão, ter perdas e ganhos. Eu, pelo menos, vivi tudo isso naturalmente. Nunca parei para pensar em que grau cada um desses momentos me modificava como pessoa ou como essa dinâmica me transformava. Eu simplesmente vivia.
Mas de uns tempos pra cá as mudanças começaram a ter um novo eco. Percebo nitidamente o que me toca e o que devo fazer objetivamente para vivenciar as transformações de forma proativa.
Quando decidi trabalhar voluntariamente com mulheres que se recuperam do uso de drogas, determinei a mim mesma um dia e hora certos para estar lá. Planejo cada encontro, defino como farei criativamente para que fiquemos felizes, eu e elas. Aos poucos fui vendo, os resultados em mim e nelas também.
Apesar de em grande parte eu ter segurança e clareza das atitudes que devo ter, nem sempre consigo sair da identificação para a mudança concreta. Certas coisas me deixam indecisa, medrosa, desanimada para pular de faixa e subir de nível.
Quero deixar de comer doce, por exemplo. Sei que não devo exagerar, por todas as razões óbvias. Na prática, esse ainda é um objetivo que só falo, não pratico.
Já conheço alguns caminhos, mas em alguns casos a incerteza dos processos por vezes me imobiliza. Acabo ficando estacionada na tal da zona de conforto. Talvez seja essa a maior diferença da juventude. Conhecer bem o percurso nos traz menos chances de erro, mas também pode gerar mais insegurança.
Na minha racionalidade, sei que algumas mudanças são inexoráveis, por mais difícil que seja vivê-las. A mim cabe sabê-las como fonte de aprendizado. Cabe ultrapassar as dificuldades e limitações, ter certeza de que sou capaz, buscar animação, alegria no processo. Cabe entender que as mudanças podem ser boas, mas depende muito de como irei encará-las.
É isso que repito para mim mesma como um mantra. Vem funcionando.
Minhas mudanças são o mais forte sinal de que estou viva. Sejam elas doloridas ou lentas, preciso encará-las, viver e aprender com cada uma.
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