Dirijo há mais de 40 anos e me considero uma boa motorista, mas se as coisas paradas pudessem correr de mim, esse seria o ideal.
Pode parecer um contrassenso, mas não é. Nunca bati em nenhum carro nem atropelei ninguém, mas o meu histórico de bater em coisas paradas é vasto, vastíssimo.
Um amigo dizia que eu batia nelas justamente porque não podiam correr de mim; já as outras, conseguiam. Talvez realmente seja isso.
Alguns episódios são emblemáticos na minha vida de motorista. Quando eu tinha um Del Rey, estava dando ré, olhando para trás e sentindo o carro pesado, mas insisti no acelerador. Ao olhar para a frente novamente, percebi que um dos lados do portão havia voltado com a força do vento e enganchado no para-lama. Isso explicava o carro estar pesado, mas também era a causa de ter amassado o carro e arrancado três lajotas do piso. Por pouco o portão não veio junto. Foi um belo estrago, tamanha a força que fiz.
Outro episódio que lembro com desgosto foi quando, saindo de uma loja, coloquei a ré e fui fazendo o giro completo do carro, sem perceber um poste ao meu lado. Amassei a lateral inteirinha.
Mas o pior me aconteceu na concessionária da Toyota. Eu tinha vendido meu carro, porém, antes de entregá-lo, fui à loja apenas para deixar alguns documentos pessoais que estavam faltando. Era quase noite. Ao sair, o sensor de ré que dispara muitas vezes sem que nada esteja atrás, disparou. Para meu desespero, dessa vez ele estava correto, e por infelicidade, eu não acreditei nele. Logo atrás havia um carro recém-chegado à concessionaria, zero quilometro. Ouvi homens gritando lá fora e, em seguida, o estrondo. Não acreditei. Bati.
Desci do carro quase chorando. Aquele carro nem era mais meu, eu já o havia vendido, faltava apenas entregar. Olhei. No meu não tinha nenhum dano, mas no da concessionária, uma generosa depressão, mais ou menos do tamanho de uma bola de futebol.
Encostei-me no carro e pus as mãos na cabeça. Escândalo, desespero, drama. Apelei e usei várias frases que hoje me parecem ridículas, mas ajudaram a sensibilizar:
- “Moço, acabei de comprar um carro aqui”
- “Estou recém- divorciada!”
- É a primeira vez que faço isso sem meu ex-marido por perto. Eu estava nervosa com essa negociação”
- “Gastei tanto dinheiro”
- “Ai meu Deus!”
Falei tudo num fôlego.
Mandaram chamar o gerente. As providências precisavam ser tomadas.
Meu coração disparou.
Quando o gerente chegou, já veio acompanhado por outro que me pareceu ser mais importante que ele, e foram logo me perguntando:
- “Aconteceu alguma coisa no seu carro?”
- “Não senhor, mas acabo de causar um prejuízo a vocês”, eu disse.
E um deles respondeu: - “Que nada, senhora, vá para casa. Não perca sua alegria, nós resolveremos isso.”
Eu dei um abraço naquele homem e apelei novamente: - “Oh, querido, muito obrigado, não tenho palavras para lhe agradecer. Você foi maravilhoso, Deus te abençoe!”
Fui embora sem acreditar no que havia acontecido. No alto dos meus quase 60 anos, nunca tinha tido tanta sorte em uma situação assim. Em geral, o prejuízo é sempre meu, sempre meu.
Talvez tenha sido um dos sinais do universo para me mostrar que eu não estava sozinha, que não dependia de alguém e que meu santo continuava muito forte.
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